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Conselho de classe: presença do professor do AEE é essencial para garantir a inclusão

Ele deve atuar pela eliminação ou redução de barreiras para que os estudantes com deficiência se desenvolvam de forma integral e atinjam todo o seu potencial

Por Adriana Cunha

12/1/20255 min read

Os conselhos de classe são encontros que ocorrem ao final de cada bimestre e reúnem professores, coordenadores, gestão e educadores que atuam no apoio das classes, enfim, todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. O objetivo é avaliar o desempenho dos estudantes, seja acadêmico ou comportamental, e fazer os possíveis encaminhamentos. Trata-se de um momento muito importante, em que a equipe docente pode refletir sobre o que foi positivo e o que precisa ser revisto e ajustado, sempre visando ao desenvolvimento pleno dos estudantes.

Nesses conselhos, a presença do professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) é fundamental. Ele deve complementar as informações do professor da sala regular, atuar pela eliminação ou redução de barreiras que impedem que os estudantes com deficiência atinjam todo o seu potencial e destacar as potencialidades desses alunos.

Ao longo do ano, na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) são construídos instrumentos de registro e evidências dos recursos utilizados e do percurso desenvolvido pelos estudantes. Quando o AEE está bem integrado com o professor da sala regular, com a coordenação e com a gestão escolar, o avanço da inclusão torna-se visível. Os casos que demandam maior atenção são apresentados para análise, e o papel do professor do AEE é orientar o conselho sobre como agir de forma inclusiva, sugerindo estratégias mais adequadas para o ano ou meses seguintes.

Olhar integral para o estudante

Precisamos sempre enxergar o estudante para além das notas. Contudo, no conselho de classe, essa visão se evidencia ainda mais. Realizamos considerações sobre todo o processo, levando em conta a evolução, a frequência, o apoio familiar e o acompanhamento terapêutico, quando é o caso. Não se trata apenas de um tipo de avaliação ou de uma única estratégia, mas de um conjunto de olhares.

O conselho de classe também é um espaço de troca entre os professores. É essencial que o grupo tenha uma perspectiva inclusiva, não apenas no conselho, mas em todas as atividades da escola. O professor do AEE pode ouvir sugestões e, da mesma forma, contribuir com orientações. Esse também é o momento de verificar o que funcionou. As propostas de recursos, adaptações, estratégias e metodologias utilizadas ao longo do ano são analisadas, e o que foi bem-sucedido é direcionado para o ano seguinte, com possíveis ajustes e novas ideias.

Durante o conselho, cada professor relata suas dificuldades e destaca os avanços. A partir disso, o professor do AEE também se autoavalia. Também verifica-se a necessidade de reformulação dos atendimentos e se o estudante deve continuar frequentando a SRM – muitas vezes, ele não apresenta prejuízos pedagógicos e, portanto, não precisa permanecer no serviço. Claro que isso deve ser pensado com cuidado, dialogado e decidido em conjunto com a equipe gestora.

Há casos de estudantes que, mesmo sem laudo, podem ser inseridos no perfil de atendimento da SRM, afinal, a ausência de diagnóstico não pode impedir o acesso a recursos educacionais e adaptações pedagógicas. Compreendo que isso é delicado, pois barreiras emocionais podem ser confundidas com barreiras pedagógicas, sendo que as questões emocionais devem ser tratadas clinicamente, com os acompanhamentos adequados. Por isso, os professores do AEE são tão necessários: esse tipo de decisão exige articulação com serviços de saúde. É importante indicar quais atendimentos o estudante precisa para alcançar um bom desempenho escolar.

Penso em quantas possibilidades de interação e intervenção surgem durante o conselho de classe. Como dispomos de tão pouco tempo para isso, cada encontro se torna uma oportunidade preciosa. Uma escola sem filosofia inclusiva é uma escola sem vida. A convivência com as diferenças traz cor, respeito e valorização do outro. Esses sentimentos fazem bem não apenas ao próximo, mas também a nós. O conselho de classe é um espaço para trabalharmos isso em nós mesmos. Ao analisar um aluno com deficiência, precisamos nos policiar para não focar nas limitações decorrentes da condição, mas olhar o sujeito de forma integral, buscando seu desenvolvimento acadêmico, social e emocional.

Plano Educacional Individualizado (PEI) e participação da família

Outro ponto importante relacionado aos conselhos de classe diz respeito à revisão do Plano Educacional Individualizado (PEI), documento vivo que deve ser constantemente revisto. Durante o conselho de classe, obtemos as informações necessárias para ajustar o PEI conforme as necessidades do estudante. Esses dados embasam novas metas, que devem ser reais, funcionais, mensuráveis e alinhadas às propostas que sustentam a inclusão no cotidiano escolar.

É imprescindível que o professor da sala regular conheça e tenha acesso ao PEI, pois ele é um mapa que norteia o trabalho com o estudante com deficiência, além de um instrumento fundamental de acompanhamento. Vale lembrar que o PEI é construído de forma colaborativa, envolvendo família, professor da sala regular, coordenação e equipe pedagógica, e não apenas o professor do AEE. O estudante com deficiência pertence à escola e, como tal, todos devem estar envolvidos em seu processo de aprendizagem e inclusão.

A família, embora não participe diretamente do conselho, está presente por meio de suas ações – ou de sua ausência. Um dos encaminhamentos mais frequentes é a busca pela parceria entre família e escola, essencial para o desenvolvimento do estudante. Uma família presente, que acompanha o filho, enfrenta menos dificuldades no percurso escolar. Quando falta essa presença, surge uma lacuna enorme, um prejuízo significativo.

Depois do conselho, sempre temos um momento para compartilhar com os pais as decisões tomadas, visando ao melhor para o estudante. É necessário buscar essa parceria, explicar avanços e desafios e mostrar que, juntos, somos mais fortes. Demonstrar que a escola se importa, que as intervenções realizadas têm propósito e que as orientações são valiosas para apoiar o desempenho do estudante. Essa parceria é a chave para a inclusão: quando gira em sintonia, as portas da aprendizagem se abrem, e o que antes era possibilidade torna-se realidade.

Inclusão como prática cotidiana

A inclusão precisa ser um estilo de vida e, na escola, uma filosofia – um modo de ser que compreende as diferenças, reconhece desafios, admite limites e investe no estudante de forma integral. Quando essa filosofia faz parte da escola, ela está presente nos eventos, nas atividades, nas práticas e em todos os espaços e momentos. Nesse contexto, o conselho de classe é importante porque mostra que a inclusão não é um projeto isolado, mas uma postura cotidiana. E evidencia que todos os profissionais da equipe escolar são responsáveis por todos os estudantes, não apenas os professores.

Não estou romantizando a inclusão. Tenho plena consciência das dificuldades, especialmente quando a escola não consegue exercer seu papel porque outras instâncias deixam de fazer o seu. Quando falo da escola cumprindo sua função, considero que o estudante está assistido pela saúde e por políticas públicas. Isso é um sonho? Sim. Mas eu acredito na inclusão e seguirei lutando para que esse sonho seja cada vez mais real nas nossas escolas. Que a deficiência seja entendida como uma característica e que as barreiras, quando existirem, sejam superadas pela parceria entre todas as instâncias necessárias para o desenvolvimento dos estudantes com deficiência.

Pequenos atos inclusivos são grandes passos que impactam diretamente a permanência e a participação efetiva dos estudantes. E é isso que buscamos ao encerrar um conselho de classe. Quando a coordenação redige a ata e cada membro assina, estamos afirmando que continuamos acreditando no potencial do estudante e que, com ações e estratégias consistentes, mostramos que não desistimos da Educação Inclusiva. Nosso lema é avançar sem deixar ninguém para trás!

Ah, e deixo aqui um conselho: acredite sempre no seu estudante!

Até a próxima!

Adriana Cunha é professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas redes municipais de Olinda e Recife. Atua com práticas inclusivas desde 2001, com experiência como professora regular em turmas do Ensino Fundamental, em salas especiais, na Educação de Jovens e Adultos (EJA) e em escolas de tempo integral. Foi a primeira professora a atuar na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) do município de Olinda.