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Direita, esquerda e centro: quando o conflito político invade a sala de aula
Direita, esquerda e centro são termos recorrentes no noticiário, nos discursos políticos e nas conversas cotidianas dos brasileiros.
Por CQL Educação
12/16/20254 min read


Direita, esquerda e centro são termos recorrentes no noticiário, nos discursos políticos e nas conversas cotidianas dos brasileiros. Nos últimos anos, porém, essas expressões deixaram de ser apenas referências a correntes ideológicas e passaram a carregar fortes cargas de conflito, radicalização e polarização. Esse cenário não ficou restrito à esfera política institucional: ele chegou às escolas e passou a interferir diretamente na educação básica.
Esta matéria tem caráter jornalístico, elucidativo e esclarecedor. Seu objetivo é explicar de forma acessível o que significam as correntes de direita, esquerda e centro, onde surgiram esses conceitos, como a polarização política impacta a sala de aula e, principalmente, de que maneira a educação básica pode contribuir para a construção de um país mais democrático, dialogal e socialmente equilibrado.
Onde surgiram os conceitos de direita, esquerda e centro
As expressões direita e esquerda têm origem histórica na Revolução Francesa, no final do século XVIII. Durante as sessões da Assembleia Nacional, os grupos que defendiam a manutenção da monarquia e dos privilégios tradicionais sentavam-se à direita do presidente da Casa. Já aqueles que defendiam reformas sociais, maior igualdade e mudanças estruturais ocupavam os assentos à esquerda. Com o passar do tempo, esses posicionamentos passaram a representar visões distintas sobre política, economia e organização social. A noção de centro surge posteriormente como uma tentativa de conciliação entre essas duas correntes, buscando equilíbrio, moderação e diálogo entre diferentes perspectivas. Embora os significados tenham se transformado ao longo da história e variem conforme o contexto nacional, esses termos continuam sendo referências importantes para compreender o debate político contemporâneo.
O que significa ser de direita, esquerda ou centro
De forma geral, a direita defende menor intervenção do Estado na economia, valorização da iniciativa privada, da liberdade individual e, em muitos casos, da preservação de tradições culturais. A esquerda, por sua vez, enfatiza a redução das desigualdades sociais, a ampliação de direitos, políticas públicas de proteção social e um papel mais ativo do Estado na promoção do bem-estar coletivo. O centro busca combinar elementos dessas duas visões, defendendo soluções pragmáticas, diálogo institucional e consensos possíveis. É importante destacar que essas definições não são rígidas nem homogêneas. Dentro de cada corrente existem diferentes matizes, pensamentos e propostas. Na educação básica, compreender essas diferenças é fundamental para evitar simplificações, estigmatizações e discursos de ódio, favorecendo uma leitura mais crítica e informada da realidade política.
Quando a polarização política invade a escola
O problema central não está na existência de diferentes correntes ideológicas, mas na radicalização do debate político. A polarização excessiva transforma divergências em conflitos permanentes, substitui argumentos por ataques e dificulta a construção de consensos mínimos necessários à vida democrática. No cotidiano escolar, isso se manifesta por meio de pressões sobre professores, desconfiança em relação ao conhecimento científico, tentativas de censura a determinados temas e conflitos envolvendo famílias, estudantes e equipes pedagógicas. Hannah Arendt alertava que a incapacidade de dialogar e pensar criticamente fragiliza a democracia e abre espaço para práticas autoritárias. Quando a escola reproduz a lógica do confronto, perde-se uma oportunidade essencial de formar sujeitos capazes de conviver com a diversidade de ideias e resolver conflitos de forma democrática.
Educação básica e democracia: o que diz a BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece como finalidade da educação básica a formação integral do estudante, preparando-o para o exercício da cidadania e para a participação social responsável. Entre as dez Competências Gerais, destacam-se aquelas relacionadas ao pensamento crítico, à argumentação, à empatia, ao diálogo e ao respeito às diferenças. Competências como a nº 6 (Responsabilidade e cidadania) e a nº 9 (Empatia e cooperação) reforçam o papel da escola na construção de valores democráticos. Ao trabalhar conteúdos de história, geografia, filosofia, sociologia e linguagem de forma integrada, a educação básica possibilita que os estudantes compreendam diferentes pontos de vista, analisem informações, reconheçam direitos e deveres e participem do debate público de maneira ética e fundamentada. Paulo Freire defendia que educar é formar sujeitos capazes de ler o mundo antes de ler a palavra. Nesse sentido, a educação política na escola não é doutrinação, mas esclarecimento e formação crítica.
O papel da escola e do professor na formação cidadã
Cabe à escola criar um ambiente seguro, plural e respeitoso para o debate de ideias. O professor, nesse contexto, atua como mediador, apresentando conceitos, contextualizando historicamente os fatos e estimulando a argumentação baseada em dados, evidências e escuta ativa. José Carlos Libâneo destaca que a função social da escola é preparar o aluno para a participação consciente na sociedade. Isso implica garantir acesso ao conhecimento científico, aos valores democráticos e aos direitos humanos, sem promover partidos ou ideologias específicas. Mais do que evitar o debate político, a educação básica deve qualificá-lo, ensinando os estudantes a discordar sem hostilidade, argumentar sem violência simbólica e compreender a complexidade da vida pública.
Educação como caminho para um país melhor
Sem educação básica de qualidade, não há democracia sólida nem projeto de país sustentável. Darcy Ribeiro afirmava que os problemas educacionais do Brasil não são fruto do acaso, mas de escolhas históricas. Superar a polarização exige investir em uma escola que forme cidadãos críticos, informados e comprometidos com o bem comum. Uma sociedade que aprende a dialogar desde a infância e a adolescência tende a construir soluções mais justas, duradouras e democráticas para seus desafios sociais, políticos e econômicos.
Considerações finais
Direita, esquerda e centro fazem parte da história das democracias e do pluralismo político. O desafio brasileiro não está na diversidade de ideias, mas na incapacidade de conviver com elas de forma respeitosa e construtiva. A educação básica, orientada pela BNCC e fundamentada em autores consagrados da pedagogia, tem papel central na superação da polarização. Ao promover esclarecimento, pensamento crítico e diálogo, a escola contribui diretamente para a formação de cidadãos capazes de fortalecer a democracia e construir um país melhor para todos.
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